A violência no namoro foi o centro de mais um Conversas entre Cafés, que decorreu no passado sábado, no Chil Out Caffé, em Ponte da Barca.

O debate, moderado por Rosa Maria Arezes, vereadora da autarquia, teve como convidadas Elsa Dourado, analista comportamental, e Mariana Falcão, pedopsiquiatra, e a presença de Diana Sequeira, vereadora da câmara municipal, de jovens e também educadores.

“Das intervenções iniciais e do debate entretanto desenvolvido resultou a mensagem de que cada ser humano transporta uma impressão digital única que o faz uma pessoa singular, moldada pela sua experiência de vida e pelas narrativas, quantas vezes inadequadas ou até disfuncionais, com que se foi confrontando, ao longo da vida”, explica o município em comunicado.

“Daí que todas as emoções e sentimentos sejam possíveis, desde os mais nobres aos mais baixos e indignos, como a raiva, o ódio e a violência. O importante – segundo as especialistas – é que cada pessoa tome consciência dos seus sentimentos e emoções e assuma que o que o distingue de qualquer outro ser vivo é a sua capacidade de decidir, de optar”, esclarece a nota.

“Neste contexto, foi realçada a importância do diálogo, da partilha, da comunicação entre as partes, nomeadamente entre os namorados e os casais, procurando que a relação seja construída a partir do desejo de ir ao encontro do outro, em vez de se estar a projetar e a exigir do outro o preenchimento do meu eventual vazio interior”, salienta o documento.

Entre algumas manifestações de violência, “que infelizmente a maioria dos jovens até considera normais, foram comentados o ciúme, a manipulação, a chantagem emocional, o controlo do vestuário, dos amigos, dos movimentos, dos contactos sociais, das mensagens de telemóvel, das redes sociais do parceiro, os insultos e os recorrentes comentários negativo”.

“Nas palavras das convidadas, estas manifestações abusivas, de clara violência psicológica, devem ser travadas, porque, acima de tudo, manifestam um problema da parte do agressor, ao nível da insegurança pessoal, baixa autoestima, vazio interior”, realça.

“Acontece que, muitas vezes, as pessoas se acomodam e não se insurgem contra este ciclo abusivo de violência porque todo o ser humano coloca reservas à mudança e tem medo do desconhecido e, por isso, não tem coragem para dizer basta”, considera.

“Segundo as especialistas, este tipo de violência é já uma realidade preocupante, com o perigo acrescido de se tender a normalizar esta prática de relações imperfeitas, com doses de violência psicológica e física inimagináveis”, pode ainda ler-se.

Para Elsa Dourado e Mariana Falcão, “muitos dos jovens cresceram num ambiente familiar violento, pelo que se limitam a reproduzir o padrão que conhecem e, se não forem travados a tempo, podem ficar agressores a vida toda, tal como as vítimas também podem nunca mais deixar de o ser, se não foram apoiadas a interromper esta espiral de violência”.

“Daí que ambos – agressor e vítima – necessitem de um acompanhamento especializado, que os ajude a compreender que atitudes como a agressão, o insulto, a ameaça, a pressão, a chantagem, a humilhação, a proibição nunca se legitimam, ainda que sejam protagonizados pelos heróis de séries e do cinema em geral, com grande êxito entre os jovens”, salienta a nota.

“Neste contexto, as especialistas – elogiando o muito que as escolas já fazem neste âmbito – sublinharam a urgência de se reforçar uma intervenção em idades precoces, orientada para os princípios nucleares de um namoro que se deseja gratificante e feliz”, explica o documento.

“A escola investe muito no desenvolvimento cognitivo e na vertente da formação científica das nossas crianças e jovens, mas a dimensão emocional e da saúde mental positiva tem de ser igualmente trabalhada, porque esta é que nos estrutura como pessoas, com tudo o que isso implica para a gestão do dia a dia e a construção de uma vida feliz”, conclui.    

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