Germano Amorim anunciou hoje que “ao fim de 29 anos de militância partidária e de um longo período de separação de facto decidi consumar o divórcio que há muito se adivinhava”.

O atual presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros de Arcos de Valdevez e líder recém eleito da distrital dos Bombeiros de Viana do Castelo enviou uma nota às redações onde assume a saída do partido e afirma que “os últimos anos foram de convivência verdadeiramente truculenta com o partido”.

Germano Amorim revela que “a guerra fratricida que se viveu no ano de 2012 em Arcos de Valdevez, que ditaria a sucessão partidária atualmente no poder, acabaria por ditar consequências que se fariam para sempre sentir, nomeadamente na quase inexistente relação com o militante de base que, como a maioria, passei a ser”.

Amorim acusa o partido de estar “cada vez mais fechado em redor de si mesmo conduzido por um politburo nitidamente desconfiado e aparentemente inseguro que tudo saberá, passando a ser uma simpática agremiação de convívio anual em torno do bacalhau do qual, a maioria, apenas vê a desilusão das espinhas”.

“O partido que era pluralista e autenticamente representativo do espectro social onde estava inserido e da realidade social que o compunha”, “tem-se vindo a isolar da sociedade, sendo quase sempre os mesmos a ditar os destinos de quase tudo, o que, consequentemente e paradoxalmente originou um partido insustentável do ponto de vista da gestão dos seus mais de 1000 militantes nas suas fileiras (entre 5 e 10% da população arcuense) ”, pode ainda ler-se.

Germano Amorim é da opinião que “ a lógica quantitativa da militância não pode bastar e apenas serve interesses pessoais, residuais, pontuais, em períodos eleitorais curtos e que esgotam a sua missão no segundo imediatamente a seguir ao objetivo concretizado”.

Para o, agora, antigo militante social democrata “as pessoas, os militantes, deixam de ser úteis e passam novamente à sua situação de levanta bandeiras sem haver assim um interesse legítimo do partido nas suas opiniões e aspirações. O que levanta outra questão perniciosa sobre quem chega ao leme dos cargos de decisão no partido”.

“A maioria dos que lá chegam são alguns que têm a capacidade financeira para despender a quantia suficiente para garantir uma eleição, contudo são por vezes autênticos iletrados que desprezam o saber”.

No entanto, Germano Amorim acredita que o PSD “continua claramente a ser o partido mais apto e preparado para manter-se e renovar-se no poder local por ainda manter nos seus quadros pessoas de muita qualidade e com imensa capacidade de influência e mobilização na sociedade”.

Todavia, e a nível nacional, considera que “o PSD sofre uma grave crise identitária” já que na opinião de Germano Amorim é, atualmente, “um partido sem estratégia e visão para o país, que anda ao sabor do vento dos acontecimentos sem nunca chegar bem a entender os ventos de mudança que já cá estão e para sempre mudaram a perspetiva sobre a composição das novas lógicas de poder e da sua repartição”.

O documento sublinha que o PSD é “um partido que se ocupa muito mais da vontade estratégica dos que aqui estão há dois dias e se deixa encurralar nessa lógica, é um partido que perdeu a sua identidade. Um partido sem agenda política. Um partido incapaz de apresentar uma ideia para o país, que perdeu por completo a sua visão reformista e progressista na sociedade, nas suas pessoas”.

“Do chicote severo da contenção à falta do que se saber dizer ao país, assim vai o PSD clara e lentamente perdendo a sua linha de orientação social democrata a fim de se tornar uma massa amorfa, sem identidade e a chama da vontade que o caracterizava”.

Germano Amorim afirma que “alguém devia relembrar que as setas que apontam ao céu foram inspiradas nas setas que combatiam e se sobrepunham ao nacional socialismo alemão na bandeira suástica. Alguém devia recordar que as três setas simbolizam igualmente a liberdade, igualdade e solidariedade, alguém deveria dizer que é a social democracia que permitiu a reforma da visão marxista sobre a economia, política e sociedade. Permitiu o progresso e a evolução com equilíbrios sociais entre quem detém o capital e os trabalhadores. Alguém devia lembrar Bernstein, Kautsky, Keynes e mesmo Sá Carneiro”.

“O PSD abandonou a reflexão e o pensamento e, quem o tenta promover, é imediatamente afastado com o epíteto de pretensioso intelectual que apenas existe para complicar a vida a quem quer fazer. Como se o fazer não implicasse antes estudar para saber como lá chegar“.

O líder da corporação de bombeiros arcuense assume que “sempre tentei cumprir com a devida dignidade e competência todos os cargos que ocupei no partido, muito mais aqueles pelo qual orgulhosamente fui eleito e ainda os cargos para o qual fui nomeado. Sempre colaborativo mas nunca subserviente, nunca me verguei, principalmente face aos valores que precedem a política, que me foram desde sempre transmitidos e dos quais nunca abdicarei”.

“Em suma, o PSD, há muito que se esqueceu de mim e eu também há muito que deixei de o procurar. Assim, naturalmente, sem mágoa e com a satisfação plena da noção de que enquanto ali andei sempre fui visto como um militante de referência, parto com a esperança de que a bem da democracia e de Portugal, possa novamente olhar para uma solução ou alternativa credível para todos os desafios que temos pela frente”.

O agora ex militante do PSD acaba o comunicado da mesma forma que o inicia: “Adeus PSD, viva o PSD”.

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