Margarida Sá, é uma jovem natural de Ponte da Barca, que neste momento está a enfrentar aquele que é certamente um dos momentos mais complicados da sua vida.

Há alguns anos a trabalhar num cruzeiro, esta fase da pandemia trouxe problemas acrescidos também para esta área. A Margarida, juntamente com cerca de 1000 pessoas, estão isolados em alto mar, num barco, à espera de uma ajuda ou de um apoio para regressar ao seu país de origem.

A jovem barquense, contou à Barca FM, que “foram transferidas pessoas de 8 barcos para este” onde se encontram actualmente, supostamente com o objectivo de “estarem todos juntos e ser mais fácil arranjar voos”. Neste enorme grupo de pessoas, cabem mais de 70 nacionalidades e entre eles estão 13 portugueses.

A empresa onde a Margarida trabalha, “desembarcou todos os hóspedes no passado dia 18 de Março, na Austrália, mantendo apenas os funcionários a bordo”, explicou a jovem. De seguido os funcionários “foram todos isolados individualmente nas cabines” e era-lhe pedido que medissem “a temperatura duas vezes por dia, ao almoço e ao jantar, utilizar sempre máscara, manter distância social e desinfectar sempre as mãos”, algo que “acontece agora em todo o lado mas já era feito por nós há meses”, saliente Margarida Sá.

A viagem neste barco foi prosseguindo “em direcção aos Estados Unidos da América e pelo caminho apenas foram feitas paragens para abastecimento de combustível e mantimento”, no entanto “nunca ninguém saiu ou entrou do navio”, alertou Margarida.

Todas as semanas chegam informações “diferentes” aos tripulantes deste navio, como “datas de possíveis desembarques”, mas a decisão “final veio decretar que seriam transferidos para o navio em que se encontram actualmente”.

Margarida explica que desde que chegaram ao navio onde se encontram actualmente, “fizeram quarentena, inicialmente seria de 7 dias mas foi depois estendida para 15 dias”. Explicou que estão “isolados nas cabines, com horas específicas para as refeições” e continuam a “medir a temperatura duas vezes por dia e até ontem” estavam “22 horas por dia no quarto sem qualquer contacto com ninguém de outros barcos”, sendo que cada equipa de tripulação “está isolada em diferentes zonas do navio”.

Até ao momento, “ninguém mostrou qualquer tipo de sintoma e todos estão saudáveis”. O navio chegou a parar nos EUA, mas “apenas desembarcaram os americanos e tinham dito inicialmente que iriam desembarcar todos no México, mas mais uma vez a decisão foi negada e apenas os mexicanos poderão fazê-lo” e Margarida afirma “que não há plano B”.

Os pedidos de ajuda feitos por este grupo já foram muitos, já foi “contactada a Embaixada Portuguesa em Portugal, a embaixada de Portugal no México, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e até o Presidente da República” mas as respostas escasseiam, sendo que as respostas recebidas dizem “que este é um problema marítimo e por isso deve ser resolvido pela empresa”. Margarida considera que “a verdade é que o único impedimento são os governos locais que não deixam sair”.

Sobre as respostas, contou ainda que recebeu um email da embaixada portuguesa no México a explicar que estão a “tentar fazer o desembarque em alguns portos do país e que se não for possível terão que continuar rumo a outro país onde seja autorizado o desembarque”.

Neste momento já “são 76 dias” de navegação e isso “tem consequências” alerta Margarida, explicando que “todos estão cansados psicologicamente” e que se sentem “como prisioneiros de um crime que não cometeram”. Sentem ainda que “as populações locais têm medo” e os tratam “como se fossem portadores do vírus”, mas considera que quem deve ter medo são eles pois estão “fechados há quase três meses naquela “bolha””. O pior de tudo, para Margarida “é não saber quanto mais tempo vão ficar nesta situação e está a ser muito difícil não ver um fim à vista”.

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